segunda-feira, 29 de julho de 2013

PROJETO BONITO SEM DROGAS


 INTRODUÇÃO

Identificando a rede social da escola

 

A escola, enquanto instituição formativa deve decidir-se por seus rumos e questionar constantemente sua função. Uma escola que não consegue se decidir por um projeto educacional, caminha sem direção e tem poucas chances de contribuir para a formação cidadã, atendendo aos anseios contemporâneos e ao desenvolvimento pleno das atuais e futuras gerações.

A educação tem um papel fundamental na reconstrução dos valores morais e éticos dessa sociedade, além de sua saga diária que é a construção do conhecimento.

A sociedade se divide em comunidades formadas por pequenos grupos. Dentro deles existem seres humanos que carregam consigo uma herança cultural que levam para os ambientes escolares.

Entender a formação dessas comunidades ajudará em todo o processo educativo para elaboração de um projeto que trate diretamente com os problemas de dependência química e envolvimento com o tráfico de drogas.

Somos professores da Escola Estadual Bonifácio Camargo Gomes da cidade de Bonito – MS. Temos o total 1.160 alunos matriculados nos diferentes níveis de ensino da escola. A faixa etária predominante entre eles é de 12 a 16 anos, sendo que 60% são meninas e 40% são meninos, quanto à distribuição nas salas de aula, em vista da porcentagem, há uma pequena predominância do público feminino.

Avaliando o nível socioeconômico e os aspectos socioculturais, concluímos que prevalecem alunos de baixa renda e o nível sociocultural típico da região, gira em torno da pecuária e do turismo, presente no cotidiano familiar e regional. Na fase de desenvolvimento profissional os alunos carregam consigo características culturais na escolha de cursos universitários e profissionalizantes. Aqueles que não buscam formação acadêmica permanecem na cidade e direcionam-se ao trabalho turístico.

Temos uma quantia considerável de alunos que residem na zona rural e que dependem do transporte escolar, já aqueles da zona urbana residem nas proximidades da escola.

Na interação pais/equipe pedagógica promovemos eventos como o dia da Família na Escola, com análise e exposição dos resultados obtidos nas notas bimestrais, reuniões para entrega de boletins, eventos festivos, com total participação artística dos alunos, e até oferecemos oficinas profissionalizantes de artesanato, maquiagem, entre outras. Mas são poucas as famílias participantes, pois esse trabalho teve inicio na escola recentemente, e sabemos que aos poucos a família participará da vida escolar de seus filhos. Sendo assim, conhecemos apenas os pais que frequentam a escola, que demonstram interesse genuíno na aprendizagem de seus filhos e que se importam com a participação deles dentro dela. Quando ocorrem as reuniões, o corpo docente procura conversar com os pais sobre o desempenho dos filhos, mas a maioria deles vem apenas para buscar o boletim do filho e não dão abertura para sabermos como é o nosso aluno no convívio familiar. Há pouco tempo, a escola tem adotado uma política de chamar os pais dos alunos “problemas” e como esse trabalho é recente, aos poucos estamos conhecendo as famílias. Consideramos que a participação efetiva dos pais contribui para bons resultados e a sua falta diminui o desempenho dos alunos que obtiveram baixo rendimento , por exemplo, no SAEMS. Outro agravante é a falta de perspectivas futuras que acabam por desanimá-los, deixando de cultivar o hábito de estudar. Observamos que muitos vêm à escola porque são obrigados a estudar ou porque enxergam na escola um ponto de encontro.

Quanto aos professores, eles tentam incentivá-los trabalhando a autoestima e desenvolvendo um bom relacionamento, que em sua maioria são prestativos e participativos na realização de atividades curriculares propostas, mas dificilmente temos na escola atividades extraclasse, tais como grupos de dança, corais, fanfarras, entre outros, e quando isso acontece ocorre uma participação maciça. Consideramos o esporte como uma alternativa de bons rendimentos e não vemos o verdadeiro valor que deveria ser dado à prática dele. A escola deve articular meios de tornar o esporte um aliado presente nas práticas pedagógicas.

            Há casos de indisciplina e desrespeito como em qualquer outra escola, mas acordamos que a clientela da nossa escola estabelece bom relacionamento com todos os professores e funcionários.

Por morarmos numa região turística, faz parte da prática social dos alunos, passeios ecológicos, banhos em rios, encontros na praça, festas com laçadas e montaria dentre outros e sendo a cidade pequena, sempre esbarramos com eles nas ruas. Assim os conhecemos dentro do limite possível por meio de conversas informais ou por conhecer integrantes de suas famílias. Na busca de melhor interação com eles, nos mostramos sempre acessíveis, receptivos e agradáveis.

Ainda por se tratar de uma cidade de interior onde toda atividade diferente é reconhecida rapidamente e propagada entre os habitantes. Assim, sem medo de errar, sabemos que podemos envolver todas as pessoas que possam contribuir de uma maneira direta ou indiretamente com este projeto, porque o objetivo maior é a proteção e a preservação da vida dos nossos educandos. Dessa forma, podemos contar com o apoio de instituições como promotoria, policia militar, psicólogos, médicos, assistentes sociais e CAPs ligados a rede municipal de saúde.

Mesmo podendo contar com as instituições citadas, entendemos que temos que ser persistentes na mobilização para que as ações estabelecidas possam ser efetivadas. Em nosso município pelo fato de ser uma cidade turística, sofre muito com a influência externa, porque boa parte dos nossos alunos trabalham com turismo, assim estão sujeitos a serem manipulados a entrarem no mundo das drogas.

Nossa escola participa e tem desenvolvido vários projetos, mas nenhum focado na prevenção do uso de drogas. Esses projetos são focados na área da educação, meio ambiente e de disciplinas especificas.

Consideramos o esporte uma forma interessante de chamar a atenção dos nossos alunos e também outra forma de trabalhar com o projeto, já que eles podem participar de uma maneira informal. Ressaltamos que antes temos que desenvolver ações para resgatar a autoestima e os valores morais e éticos, tão fora de moda nos dias atuais. Podemos integrar esse dois pontos, organizar eventos onde envolvam esporte com disciplina, perseverança e vontade de vencer na vida, e com isso abrindo novas perspectivas para eles e também organizar palestras de motivação que anteceda um campeonato esportivo e durante os jogos sempre trabalhar com momentos de reflexão para aproveitar os alunos reunidos.

 

Panorama do uso de drogas no contexto escolar

            Atualmente, além de tantas outras adversidades que comprometem o desempenho do aluno na escola, convivemos ainda com a interferência direta do uso de drogas no âmbito social e escolar. Percebemos que as drogas lícitas chegam às escolas com facilidade e por terem produção e venda liberadas pelo governo, as bebidas alcoólicas e o tabaco encabeçam as estatísticas. Entre os principais motivos que levam os adolescentes a se envolverem com drogas podemos ressaltar três motivos: desejo de fuga dos problemas, a busca por aceitação social e curiosidade por novas sensações.

Além de pertencermos a regiões fronteiriças, com grande movimentação de tráfico e de fácil acesso às drogas, convivemos ainda direta ou indiretamente com várias pessoas, vindas de vários lugares que trazem consigo ou que buscam drogas ilícitas. Sendo assim, os adolescentes daqui sofrem mais pressão para evitar e/ou recusar o uso de drogas.

Entretanto, após levantamento de dados obtidos por meio de informações coletadas com os próprios alunos, com professores que se mostram mais interativos diante deles, por meio de registros e do que observamos cotidianamente, concluímos que os nossos alunos pouco se envolvem com práticas abusivas de uso de drogas. Há casos esporádicos de usuários frequentes de maconha, sendo esta a droga mais acessível e comum entre as ilícitas. Nunca houve avaliação acerca dos problemas que envolvem o uso de drogas na nossa escola e por este fator não sabemos informar porque esses alunos usuários desistem de estudar, porque usam e nem temos acesso às informações quantitativas sobre o consumo de drogas em nossa comunidade escolar. Sabemos que há informações registradas, há flagrantes e chamados da polícia para revista e apreensão de drogas dentro da escola. São poucos os casos noticiados e isso acontece porque os alunos não dizem o que sabem e observam e quando perguntamos eles negam. Assim percebemos a importância de termos na escola professores engajados nesse projeto para que possamos mensurar toda a extensão do problema e ações para resgatar esses alunos e mostrar a todos o estrago causado pelo uso das drogas. Observa-se muito que o exemplo familiar é fundamental e há casos decorrentes de pais e familiares dependentes, dificultando assim tanto a prevenção quanto à participação do aluno na escola quando se desenvolve projetos para mostrar os prejuízos das drogas. Porque sabemos que mais vale o exemplo do que o próprio ensino, e isso eles não possuem. Entre os tipos de usuários, o mais comum em nossa comunidade escolar é o usuário recreativo e em algumas vezes o usuário experimental, que de acordo com relato, quando o adolescente exagera no consumo das bebidas alcoólicas ele se sente a vontade em experimentar outras drogas, o que facilita muitas vezes a tornar-se um usuário dependente. Ressaltamos que há muito incentivo por parte do turismo que a cidade atrai e o grande fluxo de pessoas diferentes para que isso ocorra.

As pessoas da escola tratam do assunto mobilizando-se no apoio a projetos quando na existência deles, esperamos que com o presente projeto possamos sensibilizar mais professores para que eles tomem iniciativas para abordar o tema e trabalhá-lo com veemência. Já houve projetos como modelo de atuação preventiva ao uso de drogas, especificamente quanto ao uso de anabolizantes em atividades físicas, sendo estes considerados um tipo de droga lícita categorizada entre outros estimulantes. O projeto fora trabalhado em anos anteriores. Temos o dia do tabagismo, onde sempre sensibilizamos nossos alunos em parceira com algum jovem que dá depoimento dos males causados pelo seu uso dentro da família. Atualmente a escola desenvolve eventos que buscam a proximidade entre escola/família na tentativa de conquistar a repleta participação dos pais no dia a dia curricular, mostrando a eles a importância da sua participação na construção a vida  educacional, social e moral dos seus filhos.

Já a comunidade possui percepção ofensiva quanto aos usuários, tratando-os com preconceito, o que gera maior gravidade do problema. É necessário um trabalho que abranja conscientização e inclusão social.

Avaliando o corpo docente, equipe pedagógica e funcionários, afirmamos que há pessoas na escola que fazem uso e em alguns casos, abuso de drogas lícitas e ilícitas. A maioria classifica-se entre os usuários dependentes. Prevalece também entre eles o uso de álcool, cigarro e há casos de uso de maconha, antidepressivos e automedicação misturada ao álcool. Não podemos negar que esses casos são fatores negativos na luta pela prevenção. Pois como falamos anteriormente não podemos cobrar se não dermos exemplos. Sendo assim é necessário que façamos primeiro um trabalho com os docentes que tem essa prática para depois estendermos aos alunos.

Sabemos que todos estão dispostos a ajudar quando preciso for. Um exemplo de auxilio prestado pela escola foi a respeito de um caso de uso de drogas que levou à exploração sexual, a escola foi procurada pelos pais do aluno envolvido, e ambos se mostraram preocupadas com esta questão no ambiente escolar. O Conselho Tutelar monitorou a situação e mesmo com o apoio pedagógico, o aluno infelizmente deixou de frequentar as aulas.

Fatores de risco e proteção na comunidade escolar

A Escola Estadual Bonifácio Camargo Gomes foi fundada no dia 27 de fevereiro de 1927 pelo tenente coronel Bonifácio Camargo Gomes, gaúcho de Passo Fundo que veio para nosso estado a procura de uma vida melhor. Foi um dos primeiros comerciantes a se estabelecer por aqui. Iniciou várias atividades comerciais e comprou parte da Fazenda Bonito, desejava e previa o progresso e desenvolvimento do município. Assim fundou a primeira escola mista do Município onde sua primeira professora foi Durvalina Dorneles Teixeira. Passando por várias transformações e formatos chegando ao modelo atual que passa por reforma completa atualmente.

A nossa escola tem prestígio na comunidade, um reflexo disso é a quantidade de pais que buscam vagas em todas as séries do ensino fundamental e médio, chegando a formar filas ou passando a noite à espera vagas. Assim este ano a diretora foi à escola no período noturno e distribuiu senhas para que as pessoas tivessem segurança e fossem para casa ter seu merecido descanso depois de um exaustivo dia de trabalho. Apesar das deficiências na estrutura e espaços físicos, temos uma equipe acolhedora, competente e renomada. A escola funciona nos três períodos e oferece curso pré-vestibular também. Além de oferecermos reforço nos contra turno para os alunos do ensino fundamental I. Temos destaques nos vestibulares tanto com os alunos do 3º ano quanto dos alunos frequentes no cursinho. Sempre estamos trabalhando projetos nas mais diversas áreas mobilizando professores, funcionários, estudantes, família e comunidade. A participação da família é relativa, os pais participativos geralmente são de alunos exemplares, mas não deixam de ser bem vindos.

A escola está situada no centro da cidade, a qual oferece como recursos pedagógicos, além de material didático, recursos tecnológicos, sala de tecnologias e biblioteca. As relações interpessoais se dão de maneira ordenada e afetiva. Há um bom relacionamento entre os integrantes da escola.

Atualmente nossa escola passa por uma reforma completa e por isso estamos alojados em dois espaços distintos, durante o dia ficamos no campus da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul da cidade e durante o período noturno nos ocupamos de uma escola municipal, até que o período previsto de um ano e meio para a reforma termine.

 

ASPECTOS TEÓRICOS

 Definição de drogas

 

Droga segundo a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) é qualquer substância não produzida pelo organismo que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas, produzindo alterações em seu funcionamento. As drogas são divididas em drogas psicotrópicas (estão relacionadas aos medicamentos, produzem efeitos benéficos como tratamento de doenças e malefícios) e as drogas psicoativas (aquelas que alteram o funcionamento do Sistema Nervoso Central).

Histórico do uso de drogas

O uso de substâncias psicoativas é um fenômeno que acompanha a humanidade em diversos períodos de sua história, variando critérios relativos a cada cultura e a cada época. Homens utilizavam produtos naturais para obter um estado alterado de consciência em vários contextos como religiosos, místico, social, econômico, medicinal, psicológico, militar, cultural e principalmente para o prazer. Sempre com o objetivo de proporcionar uma melhor ligação com o sobrenatural/divino, como no caso do álcool que era usado para favorecer o contato com os deuses.

Na Idade Moderna, fatores com as grandes navegações, a Revolução Industrial e o Capitalismo levaram a uma concentração urbana e também à industrialização da produção de bebidas alcoólicas, aumentando o consumo.

Na década de 50 e 60, com o fortalecimento do capitalismo no mundo ocidental pós-guerra, houve uma grande necessidade de mão de obra, que exigia trabalhadores rápidos, ativos e, principalmente, sóbrios.

Jovens europeus e americanos se rebelaram contra esse modelo econômico, e, desiludidos diante de uma realidade dura, injusta e brutal, que contrapunha o “sonho americano”, de igualdade, liberdade e prosperidade para todos, organizaram-se em movimentos estudantis que repercutiu pela França, espalhando-se pela Europa e EUA, originando o movimento hippie. Nesse movimento, sexo, drogas e Rock N’ Roll são expressões da juventude que ameaçavam o sistema vigente.

Nos anos 80, o tráfico de drogas passa a ser a segunda maior economia do mundo, perdendo apenas para a informática. Na década de 90, marcada pelo uso da cocaína, observa-se uma redução nos serviços públicos como a saúde, a educação e a proteção aos indivíduos. Como consequência houve altas taxas de desemprego, aumento da violência e com isso a dependência do uso de substâncias psicoativas passaram a ser vistas como problemas não gerados pela sociedade, mas como amenizador do sofrimento e tensões sociais, sendo estas a causa maior do que a simples busca pelo prazer como antigamente. (Educador Direcional, REVISTA, 6° ed. ABRIL, 2010, p. 27).

 

O uso de drogas na escola

 

Dentre os fatores do uso de drogas entre os adolescentes podemos observar a questão histórica como uma forma de manifestação, busca de autoafirmação e prazer com o objetivo de ser aceito no grupo que fazem parte.

Sendo assim as causas apontadas por autores relacionadas com o mundo escolar que podem levar ao uso de drogas, foi verificado que fatores como o baixo desempenho escolar em estudantes podem excluí-los, em algum grau, do grupo de estudantes que têm mais sucesso, levando-os ao envolvimento com pares que apresentem problemas em aspectos escolares. O impacto do grupo é um fator que interfere no uso de substâncias psicoativas, e os autores evidenciam que quanto maior a associação com pares desviantes, maior a probabilidade de desvio e uso de drogas (BAHLS; INGBERMAN, 2005).

A escola é um ambiente onde ocorre a interação dos adolescentes e adultos em grupos desde a infância até a vida adulta. Essa interação é importante e fundamental no desenvolvimento humano, na formação do seu caráter, construção de suas relações sociais e no desenvolvimento da cidadania.  Todavia, os tipos de relações que ocorrem no contexto escolar são de ampla complexidade que podem refletir em problemas prejudiciais ao desenvolvimento acadêmico dos estudantes. Esses problemas podem surgir dentro do âmbito escolar ou dentro da comunidade onde esta escola está inserida e pode trazer reflexo a ela. Portanto, todos os atores que fazem parte do contexto escolar deverão estar preparados para enfrentar tais problemas. Sendo assim, um problema de grande relevância na sociedade e que vem refletindo no ambiente escolar é o uso abusivo das drogas, que entre muitos interferem no processo de ensino- aprendizagem.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                       

O uso de drogas se configura com um problema atual que vem crescendo a cada dia, e o que se percebe muitas vezes é o despreparo das pessoas para enfrentar essa situação, sendo necessário que façam abordagens dentro do contexto escolar para identificar as causas e estabelecer estratégias para cortar o mal pela raiz. Nesse sentido, é necessário que as instituições de ensino adotem uma postura de enfrentamento conjuntamente com os demais setores sociais esclarecendo e prevenindo os jovens dos perigos de consumir tais substâncias. Segundo Abramovay e Castro (2005), a escola é o local propício para ajudar na prevenção das drogas, no sentido em que reúne várias qualificações que colaboram para a difusão de tal perspectiva na comunidade e na sociedade.

Por conseguinte, é relevante considerar que as drogas são um problema de todos, pois de alguma forma ela acaba interferindo na vida de muitos. A decisão por fazer uso de drogas culmina no financiamento ao tráfico, que traz como consequências: o aliciamento de menores, a marginalização, a violência, o dispêndio do dinheiro público, a opressão, baixo rendimento escolar, dentre outros. Sendo assim, todo o entorno de um usuário acaba arcando financeiramente com o seu vício, um investimento financeiro muito alto que poderia estar sendo aplicado em outras áreas de ampla abrangência social como: a educação, saúde e saneamento básico (CARLINI-COTRIM, 1998).  Para estimar os custos relativos ao uso e abuso de drogas em termos de Saúde Pública podemos citar nos anos 90 o custo anual estimado nos Estados Unidos era de 100 bilhões de dólares e quase 30 bilhões no Brasil.

A educação escolar é um dos direitos sociais que visa o desenvolvimento intelectual do ser humano, contribuindo de forma decisiva para sua integração individual e social. Pois a escola possibilita a convivência dos indivíduos em grupos desde a infância ampliando assim, seu mecanismo de inclusão social (MURER; OLIVEIRA; MENDES, 2009).

No Brasil, a educação está presente em sua Constituição Federal, no artigo 6º, sendo apreciada como um direito de todos e dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, sua finalidade é o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Para Freire (1981), a educação deve ser problematizadora e libertadora, à medida que ela é uma constante busca visando que os indivíduos transformem o mundo em que vivem. Para tanto, os mesmos devem compreender a realidade que os cerca através de uma visão crítica da mesma, reconhecendo e respeitando sua cultura e história de vida.

Cabe a escola um papel importante na formação do cidadão. No entanto, ela acaba se omitindo ou agravando o problema, ao constatar alunos fazendo uso de drogas, e simplesmente comunica aos familiares e os incumbe do cuidado com esse membro, o que significa muitas vezes o afastamento desses alunos das salas de aula e, em muitas ocasiões, a desistência de continuar a vida escolar (SILVAet al., 2008). Esse tipo de ação, apenas reflete uma questão muito presente nas escolas, que é o preconceito contra alunos ditos “marginalizados”, estes são aceitos pela escola simplesmente por obrigação da instituição, e frente a situações consideradas graves, como por exemplo, o uso de drogas, a escola tem a justificativa para expulsar esse aluno da instituição, encerrando nesse ato sua ação a respeito das drogas, sendo repassada toda a responsabilidade para a família. Frente essa situação, é relevante salientar que a falta de preparação do docente, frente a problemas relacionados a drogas no ambiente escolar, é advinda da própria formação do docente que não oferece subsídios para saber como agir em tais situações.

Cabe então à escola manter com a comunidade em que se situa um relacionamento de colaboração, em que pais ou qualquer pessoa da comunidade se envolvam e participem das atividades promovidas pela escola, em prol do bom aprendizado e formação social dos seus alunos previsto na  Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) N°. 9.394/96.

Os docentes a partir disso devem entender como surgiu o uso das drogas e mudar sua política de repressão aos usuários e passar a trabalhar mais nas políticas de orientação, principalmente sobre a promoção da saúde. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais Saúde (PCN), a educação em saúde está organizada de forma a indicar a dimensão individual e social da saúde, com os conteúdos organizados em dois eixos, sendo estes: autoconhecimento para o auto cuidado e vida coletiva. Dentre os conteúdos a serem abordados, dentro do bloco vida coletiva, estão incluídos: agravos ocasionados pelo uso de drogas (fumo, álcool e entorpecentes). Segundo a indicação dos Parâmetros Curriculares para a Saúde, estes temas devem ser tratados transversalmente, permeando por todas as áreas que compõem o currículo escolar, de forma multidisciplinar, e fazem parte dos chamados temas transversais (BRASIL, 1996).

 
JUSTIFICATIVA

De acordo com a realidade do Brasil, nossos jovens não fogem à estatística e dentre eles o uso do álcool impera como a droga mais adquirida por eles, seguida do cigarro e logo após, a maconha. Constatamos que a maioria começa a ingerir bebida alcoólica a partir dos 12 anos de idade e que muitos tomam o ‘primeiro gole’ em casa, na presença dos pais. O comércio da região não obedece à lei em todos os casos e frequentemente vende bebida e cigarro aos menores de idade, sem a fiscalização necessária e exigida por lei federal.

Sentimos a necessidade de por em prática um projeto que atinja objetivamente a precaução no uso de drogas, que seja claro, interativo e sensibilizador.

  

OBJETIVOS

Objetivo geral

Promoção da saúde na Escola através da prevenção do uso de drogas.

Objetivos específicos

Promover ações direcionadas aos alunos do Ensino Médio, público alvo do nosso projeto, tais como:

·         Conscientizar e orientar os alunos acerca dos prejuízos causados pelo uso das drogas (lícitas e ilícitas);

·         Despertar a autoconfiança;

·         Demonstrar através de relatos a valorização dos estudos;

·         Incentivar as boas práticas;

·         Envolver os alunos e os pais frente às ações desenvolvidas na escola.

·         Demonstrar os prejuízos causados pelo hábito de naquear[1], comum na nossa região.

·         Sensibilizar alunos e pais sobre a autodestruição causada pelo uso e abuso de drogas.

·         Formar monitores para orientação e prevenção do uso de drogas nas salas.

Definição dos sujeitos de intervenção

As ações do projeto se destinarão à comunidade interna escolar, especificadamente aos alunos do Ensino Médio, ou seja, 1º, 2º e 3º anos, tanto no período diurno quanto no noturno, a faixa etária compreendida no público alvo vária de 14 a 18 anos de idade.

As ações serão coordenadas em longo prazo, pelos professores das áreas Biológicas e Humanas, durante o ano cursivo de 2013.



METODOLOGIA

Tendo em vista os objetivos especificados, almejamos concretizar a formação de um grupo de alunos para realizar encontros mensais com o intuito de debater assuntos referentes às drogas e suas consequências, como também provar aos adolescentes que é possível levar uma vida divertida e, acima de tudo, saudável sem o uso de drogas. A discussão e reflexão serão realizadas através de palestras, músicas, jogos recreativos, danças e debates. Adotaremos para isso um tom amigável e acolhedor a fim de preservar e aprofundar o vínculo com os adolescentes e resgatar a autoestima saindo da sala de aula, promovendo momentos de conversa em um ambiente de tranquilidade e confiança mútua. Contaremos com a colaboração de uma família que enfrentou um processo de reabilitação do filho adolescente usuário e que mostraram interesse em ajudar ativamente no desenvolvimento do projeto.

No interesse em incluir o nosso projeto ao programa do Ensino Médio Inovador, devido a sua importância, esperamos ser contemplados com uma ajuda de custo no valor de R$ 500,00 a ser aprovado pela coordenação do programa na escola. O dinheiro será aplicado na confecção de camisetas, Day Use em hotéis, compra de lanches, locação de filmes e combustível para transportar os alunos até os locais dos encontros.

Realizaremos encontros mensais nos finais de semana durante oito meses em ambientes internos e externos à escola. Cada encontro terá local predeterminado e um tema a ser debatido. Os temas abordarão a promoção da saúde e da autoestima, a prevenção, motivos e consequências inerentes ao uso de drogas, valorização dos estudos, drogas naturais e sintéticas, o resgate da autoridade dos pais na família e na escola. Sendo assim, para atrair maior atenção, cada encontro terá um momento interativo que o local proporcionará, como por exemplo, jogos no ginásio de esportes, trilhas em passeios ecológicos, roda de tereré[2] na praça, assistir ao filme (Diário de Um adolescente) na casa de um professor, dança, visita acompanhada de um funcionário de hotel mostrando o seu funcionamento e como a mão de obra na cidade é trazida de fora por não encontrá-la aqui. Além dos debates e dos momentos interativos que aproximam aluno e professor, faremos explanação nos encontros reunindo informações, imagens e vídeos pertinentes ao assunto para embasar e fomentar a discussão. Caberá aos alunos líderes de sala preparar pesquisas e organizarem-se em grupos para explanarem informações coletadas a fim de fomentar os debates. Os professores envolvidos conduzirão o encontro, as apresentações e os debates. Em cada encontro serviremos lanches leves, pipoca ou chocolate-quente para os participantes. Para isso, faremos uma campanha de divulgação durante o primeiro mês, apresentando o projeto para os professores, alunos e funcionários, contando com a participação de todos, enfatizaremos também a importância da inclusão do projeto no conteúdo curricular de cada um, trabalhando a interdisciplinaridade. Neste período de divulgação visaremos a Participação Juvenil e a formação de multiplicadores e convidaremos os alunos com perfil para serem os multiplicadores. Eles participarão dos encontros e com isso serão disseminadores da prevenção entre os colegas e colaboradores daqueles professores que trabalharão o projeto em sala. Pretendemos formar um grupo com no máximo 30 alunos e criar uma camiseta para campanha de prevenção ao uso de drogas. Todas as etapas do projeto serão documentadas para a produção de um projeto midiático de conclusão.

Com o objetivo de mostrar os prejuízos do uso das drogas de uma maneira mais próximo da realidade, vamos programar a leitura do livro “Em carne Viva” da autora Maria da Glória Cardia de Castro e a sua adaptação para encenarmos uma peça teatral envolvendo os alunos multiplicadores para ser apresentado na escola e em outras instituições para que todos possam estar atentos ao desvio de conduta por parte dos adolescentes que pode ser um indício do uso de drogas.

Como disse John Lennon “O sonho acabou; vamos encarar a realidade. Não se drogue por não ser capaz de suportar a sua própria dor. Nenhum lugar fará você sentir um homem. Eu estive em todos os lugares e só me encontrei em mim mesmo”.

  

RECURSOS UTILIZADOS

Os recursos humanos compreenderão os professores, alunos, multiplicadores, pais de alunos, comunidade externa e parcerias com a rede municipal de educação e saúde. Vamos dispor dos recursos físicos tais como: escola, residências de alunos e professores, ambientes externos, públicos e particulares (praças, ginásios, pousadas, balneários). 

Quanto aos recursos materiais utilizaremos equipamentos tecnológicos, publicações impressas e virtuais, meios de transportes, filmes, internet, etc.

 

CRONOGRAMA

CRONOGRAMA 2013
 
ETAPAS
DURACÃO
LOCAL
TEMA
ATIVIDADE EXTRA
MARÇO
Todo o mês.
EE Bonifácio Camargo Gomes
Apresentação para os professores.
-
ABRIL
Todo o mês.
EE Bonifácio Camargo Gomes
Apresentação do projeto e reuniões com os líderes para acertar os preparativos para o primeiro encontro.
-
MAIO
3h
Day Use (Hotel)
Cigarro, Narguilé, Fumo de mascar.(naquear) Alcoolismo/ Promoção da saúde
Passeio e acompanhamento profissional sobre o funcionalismo interno de hotéis na cidade.
JUNHO
3h
Sala de vídeo
Tráfico e fatores que levam um usuário se tornar dependente
Assistir filme temático em sala de vídeo em uma locadora da cidade.
AGOSTO
3h
Praça Central
Drogas naturais/ Valorização dos estudos
Roda de tereré, dança e música.
SETEMBRO
3h
Balneário Municipal
Drogas Sintéticas
Apreciação da natureza, banho em rio, jogos em quadra de areia.
OUTUBRO
3h
Ginásio de Esportes Municipal
Resgate da autoridade dos pais na família e na escola
Competições esportivas.
NOVEMBRO
3h
Passeio Turístico
Finalização conclusiva do projeto.
Trilha.
DEZEMBRO
2h
EE Bonifácio Camargo Gomes
TEATRO
Apresentação na escola e na praça da cidade.

 

 

BIBLIOGRAFIA

ABRAMOVAY, Miriam; CASTRO, Mary Garcia, (2005). Drogas nas escolas: versão resumida. Brasília: UNESCO.

BAHLS, Flávia Rocha Campos; INGBERMANN, Yara Kuperstein, (2005). Desenvolvimento escolar e abuso de drogas na adolescência. Estudos de Psicologia, v. 22, nº 4, p.395-402.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1998. Brasília: Senado Federal.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1996.

CARLINI-COTRIM, Beatriz; PINSKY, Ilana, (1989). Prevenção ao abuso de drogas na escola: uma revisão da literatura internacional. Caderno de Pesquisa, nº.69, p.48-62.

CARLINI-COTRIM, Beatriz, (1998). Drogas na escola: prevenção, tolerância e pluralidade, In: AQUINO, J.R.G (org). Drogas na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus.

Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas CEBRID (2010). Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas. Disponível em: <http://www.unifesp.br/>. Acesso em: 06 de ago. de 2010.

CASTRO,Maria da Glória Cardia. Em carne viva.- 2ª edição – São Paulo: Moderna, 2003- (Coleção Veredas).

FREIRE, Paulo (1996). Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 37 ed. São Paulo: Paz e Terra.

FREIRE, Paulo, (1981). Educação como prática da liberdade. 19 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9394, de 20 de dezembro  de 1996

MEC:Introdução.Disponível: HTTP://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/introducao.pdf. -  acessado em: 18/05/2010.

MURER, E.; OLIVEIRA, J. D. F.; MENDES, Roberto Teixeira, (2009) "Substâncias Psicoativas no Ambiente Escolar", "Alimentação, Atividade Física e Qualidade de Vida dos Escolares no Município de Vinhedo/SP". Editorial, nº 11, p.89-99.

 Revista Educador direcional, 6° edição de abril de 2010, p.28.




[1]Naquear é o hábito de mascar e cuspir tabaco, fumo de corda ou fumo de rolo.
 
[2] Tereré é uma bebida feita com a infusão da erva-mate (Ilex paraguariensis), de origem Paraguaia.